blog d'apontamentos

16.11.05

Gaba-te blogger!


Comecei hoje o dia a ajudar um amigo a dar uma aula. Falei do meu percurso como blogger ligando prática e reflexão sobre o blog, mostrei alguns dos que editei, incluindo este em que escrevo, e criámos um, a título exemplificativo.

Gostei não só de estar na sala de aula, como também gostei de pensar e preparar a intervenção. É sempre bom contar a nossa história, e foi mais ou menos o que fiz. Confesso-me surpreendido pelo quanto escrevi sobre o assunto e já quase havia esquecido, e também pelo pouco que agora alteraria do que então escrevi.

Surpreendido também pelo facto de todos os alunos (e só não digo alunas por haver um aluno) terem já tido contactos com a realidade blog.

Foi agradável, bastante agradável.

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Não que o tenha seguido, mas porque me serviu de base, aqui fica um texto que li em tempos no Alandroal.


O blog como exercício de escrita,
o blog como exercício de proximidade



Aqui e agora, eu e tu temos encontro marcado. Neste texto, eu o autor e tu o leitor cumprimentamo-nos (Olá, como estás? Estou bem, e tu? Bem, muito obrigado? Eu também.) e confundimo-nos: eu sou tu e tu és eu e os dois somos tu e eu. Não estamos sós! Também está aqui uma terceira pessoa: o editor. Não o ignoremos! Temos então autor, leitor e editor todos juntos num texto. Um texto onde aquele que chega é, ao mesmo tempo, um potencial autor, leitor e editor. Quem julgaria isto possível? Viva o texto, viva o hipertexto. Viva todos nós!


Este pequeno texto que acabei de ler, foi publicado em tempos no Mil e Uma Pequenas Histórias, o blog que mantenho desde Agosto de 2002.

Tal como as cerca de seis centenas de outras pequenas histórias que aí se encontram, foi escrita por mim, e também por mim editada, quase ao mesmo tempo que podia ser lida por quem por ali passasse.

Esta história tem ainda outra particularidade, a de ter sido a primeira em que inclui uma ligação para outro lugar da Net, precisamente um site dedicado ao hipertexto

O texto electrónico é apontado por muitos como uma verdadeira revolução. O blog, por seu lado, é sem dúvida a guarda avançada dessa revolução electrónica.

No blog assiste-se a um fenómeno verdadeiramente único, no que à escrita e à leitura se refere: autor, editor e divulgador confundem-se pela primeira vez, reduzindo de modo dramático e irremediável a distância entre autores e leitores, entre a escrita e a leitura. A escrita e a leitura nunca estiveram tão próximas, atingindo uma quase simultaneidade e uma quase identidade nunca antes conseguidas.

É sobre estes dois eixos, por assim dizer, que desenvolverei esta breve exposição, considerando o blog quer como um exercício de escrita, quer como um exercício de proximidade.


Exercício de Escrita


Escreve-se escrevendo, esta é a verdade para qualquer um que se aventura na escrita.

Escreve-se pois escrevendo, com regularidade e persistência, tal é a sina de quem escreve.

O blogger, aquele que edita um blog, precisa, dadas as própria características do suporte que utiliza, escrever com regularidade e persistência, tentando sempre melhorar a sua escrita.

Todos os que mantêm ou mantiveram um blog passaram por esta verdadeira prova de fogo e devem ser considerados autênticos escritores, escritores de blogs ou, simplesmente, bloggers, isto porque a sua actividade principal é escrever, em nada se distinguindo de outros escritores convencionais, quer sejam romancistas ou cronistas.

Em Agosto de 2002, quase há dois anos que mais parecem uma eternidade, comecei a editar o Mil e uma pequenas histórias, blog com o qual, como seu nome anuncia, pretendia, pouco a pouco, quase diariamente, atingir as 1001 histórias. Ainda não alcancei o meu objectivo, mas aproximo-me dele cada vez mais, com a regularidade e a persistência que são exigência da própria escrita e, neste caso, também do próprio blog que tem se mostrado ele mesmo um verdadeiro exercício de escrita.

As cerca de seiscentas pequenas histórias que escrevi até agora no Mil e uma pequenas histórias dificilmente existiriam se o blog não existisse. Esta é uma afirmação que uso sem reservas, e tenho a certeza que muitos blogs a subscreveriam no seu caso particular: sem blog não teriam escrito, sem blog não teriam continuado a escrever.


Exercício de Proximidade


Mas se o blog é sempre um exercício de escrita, ele é também muito mais do que isso, pois o blogger é não apenas um escritor, mas também um editor, e um leitor.

O texto electrónico iniciou uma verdadeira revolução, ou uma evolução, se preferirem, face aos suportes tradicionais, quer sejam os livros, os jornais ou as revistas. A ideia de proximidade pode ser usada para revelar as transformações operadas.

A eliminação de todos os intermediários por um lado, e a quase simultaneidade entre a escrita e a leitura por outro, colocam pela primeira vez o escritor e o leitor num verdadeiro frente a frente em que até o observador mais atento terá dificuldade em distingui-los.

As cerca de seiscentas pequenas histórias que escrevi até agora no Mil e uma pequenas histórias dificilmente existiriam se eu tivesse estado sozinho nesta empresa de escrever 1001 pequenas histórias. Na verdade, muitos são os blogs, os bloggers e os leitores que estiveram e continuam a estar comigo nesta empresa. Isto porque o blog, além de um exercício de escrita, é também um exercício de proximidade, de proximidade com outros blogs, com outros bloggers e com todos os que lêem e escrevem na Net.

Continuei a escrever porque recebi, em momentos difíceis, vários incentivos para continuar. Continuei a escrever porque senti os ecos das minhas pequenas histórias noutros blogs, noutros bloggers, noutros leitores. Esses ecos chegaram-me por hiperligações diversas, por comentários no próprio blog e por correio electrónico.

Estou convencido que o mesmo aconteceu, e acontecerá, com outros bloggers, que perceberam afinal que não estavam sós, bem antes pelo contrário, e foi esse facto que os levou, e nos leva a todos, a continuar, a persistir.


A terminar


Vou agora terminar, não com a releitura da pequena história com que iniciei, minha primeira intenção, à imagem do campeonato europeu que amanhã termina, mas com a leitura de outra pequena história, uma das últimas publicadas no Mil e uma pequenas histórias, mais precisamente a pequena história quinhentos e oitenta e cinco.


Ia um homem caminhando pelo parque, quando uma ema se acercou dele e lhe pediu com insistência:
— Por favor, conta-me uma história. Por favor.
O homem parou, surpreendido, e por alguns instantes nada disse.
— Bem que gostava de te agradar, mas há muitos e muitos anos que os homens deixaram de contar e de ouvir histórias. Diz-se mesmo que é um dom que está perdido para sempre, embora ninguém sabia verdadeiramente explicar o motivo.
A ema disse então:
— Mas tu já começaste, e vais muito, muito bem. Não pares agora e vais ver que consegues.
O homem assim fez, primeiro a medo, mas depois já empolgado. Falou durante muito tempo, e só quando terminou é que percebeu que à sua volta estavam agora muitos animais, e também homens mulheres e crianças que o aplaudiram longamente.
E foi esta a história que ele contou aos seus filhos quando chegou a casa.


Luís Ene, Alandroal, 3 de Julho de 2004
2:32 da tarde

7 Comentários:

Pois é Luís. Os agradecimentos que se fazem na hora ainda não têm o tempo, a "patine", do sentido que se quer dar às palavras. Saem, assim como uma deferência, tão banal que não me agradam. Por isso espero. Espero pela noite, o tempo em que as palavras se conseguem ouvir na nossa boca. Um grande abraço de agradecimento. Helder Raimundo.
Escusado será dizer que eu é que agradeço, a ti, e ao cc3. :)
Luís
Gostei de saber da tua aula, mas fiquei sem a perspectiva do nível etário dos alunos e do tipo de curso que seguem.
Vi, pelo post acima, que provavelmente nos voltaremos de novo a encontrar. Até breve!
Um abraço.
Ah!
E estive a brincar com a língua n'"A Voz de Loulé".

Pronto! Lá descalcei esta bota.
Olá António, são alunos do 3. ano do curso de comunicação social. Espreita o blog deles criado no momento.

Um abraço
malandro!
então andavas por aqui e não dizias nada? foi preciso falar com a minha afilhada da universidade para saber que até estiveste na ESE outra vez? ai, ai, ai!!!!! uma pessoa a desesperar e depois afinal tás aqui!
Fico feliz por te reencontrar!
beijinhos!
Diz o povo, e eu dou-lhe razão, que quem se quer bem sempre se encontra. Um abraço.

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