18.1.06
O texto, o autor e o leitor
A escrita é sem dúvida um dos temas sobre os quais escrevo. A reflexão sobre o que é escrever, porque se escreve e para quem se escreve surge com frequência no que escrevo. E o relacionamento, por assim dizer, entre mim e o que escrevo é também algo que sempre me intriga.
Há não muito tempo, li num blog uma citação de A Justa Medida mas só quando vi a origem do texto o aceitei como meu. Mas ainda que o tenha escrito ele não deixa de aparecer apenas com um texto, em que me reconheço, é verdade, mas também é verdade que me reconheço em muitos textos que não escrevi. Fica sempre neste confronto uma vaga sensação de estranheza.
De um romance não publicado que dou a ler a uma amiga, regressa uma frase, quanto a ela uma frase que resume o romance, e com a qual me acontece o mesmo que com a citação que acima referi. Escrevi essa frase?, pensei, e não o fui confirmar, mas aceitei-a como minha. Para mim, como leitor, que diferença faz ter sido ou não escrita por mim? Se apenas dissesse no que escrevo aquilo que quero dizer, melhor seria deixar de o fazer. Não escrevo tanto para me revelar como para me descobrir.
"Perde-se muito tempo a pensar quem somos quando o que somos se limita a acontecer."
Ainda me leio nesta frase, mas podia até acontecer que não, e não deixaria de ter sido eu que a escrevi. Como esta que se segue, escrita por uma personagem de A Justa Medida e que o narrador dá conta num romance que eu mesmo escrevi.
"É difícil iniciar, assim como é difícil continuar. No entanto, a primeira acção, onde tudo começa, parece desencadear as seguintes, como se tudo estivesse já determinado a acontecer, ou tivesse já ocorrido, como quando se lê um romance. Mas onde tudo começa e acaba, é bem mais difícil de determinar na vida do que nas páginas de um livro; este separa-se do autor, que a ele não regressa, e não se deixa possuir pelo leitor, que apenas o atravessa: é uma ponte que não une duas pessoas mas apenas marca o antes e o depois, da escrita e da leitura. Os factos e acontecimentos assinalam sempre um antes e um depois. Atravessamos a vida à medida que dela nos separamos."
Há não muito tempo, li num blog uma citação de A Justa Medida mas só quando vi a origem do texto o aceitei como meu. Mas ainda que o tenha escrito ele não deixa de aparecer apenas com um texto, em que me reconheço, é verdade, mas também é verdade que me reconheço em muitos textos que não escrevi. Fica sempre neste confronto uma vaga sensação de estranheza.
De um romance não publicado que dou a ler a uma amiga, regressa uma frase, quanto a ela uma frase que resume o romance, e com a qual me acontece o mesmo que com a citação que acima referi. Escrevi essa frase?, pensei, e não o fui confirmar, mas aceitei-a como minha. Para mim, como leitor, que diferença faz ter sido ou não escrita por mim? Se apenas dissesse no que escrevo aquilo que quero dizer, melhor seria deixar de o fazer. Não escrevo tanto para me revelar como para me descobrir.
"Perde-se muito tempo a pensar quem somos quando o que somos se limita a acontecer."
Ainda me leio nesta frase, mas podia até acontecer que não, e não deixaria de ter sido eu que a escrevi. Como esta que se segue, escrita por uma personagem de A Justa Medida e que o narrador dá conta num romance que eu mesmo escrevi.
"É difícil iniciar, assim como é difícil continuar. No entanto, a primeira acção, onde tudo começa, parece desencadear as seguintes, como se tudo estivesse já determinado a acontecer, ou tivesse já ocorrido, como quando se lê um romance. Mas onde tudo começa e acaba, é bem mais difícil de determinar na vida do que nas páginas de um livro; este separa-se do autor, que a ele não regressa, e não se deixa possuir pelo leitor, que apenas o atravessa: é uma ponte que não une duas pessoas mas apenas marca o antes e o depois, da escrita e da leitura. Os factos e acontecimentos assinalam sempre um antes e um depois. Atravessamos a vida à medida que dela nos separamos."
8:04 da manhã
2 Comentários:
Já chegou o seu livro...vou hoje buscá-lo....
olá Margarida.
olá Laura.
olá Laura.